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Psicologia do Climatério

Qualidade de vida no climatério – Desafios e possibilidades

Associar qualidade de vida e climatério suscita sempre insegurança, uma vez que essa fase da vida da mulher é percebida na nossa cultura como um período marcado…

Associar qualidade de vida e climatério suscita sempre insegurança, uma vez que essa fase da vida da mulher é percebida na nossa cultura como um período marcado por provações e sofrimento físico, psíquico e social, fortemente associado ao envelhecimento – quase sempre indesejado.

O envelhecimento, entretanto, é uma vivência singular e, sobretudo, percebido de forma distinta a depender de características pessoais, aspectos culturais e gênero. 

Com o aumento da expectativa de vida no Brasil nas últimas décadas e a feminização do envelhecimento em razão da alta prevalência das mulheres entre os idosos, o climatério passou a ocupar um lugar de importância significativo, uma vez que esse período impacta diretamente no envelhecimento. Considerando que a média de vida das mulheres, segundo dados levantados pelo IBGE em 2018 é de 79,9 anos e a dos homens é de 72,8, e levando-se em conta que o climatério pede durar de 15 a 20 anos, esse período pode representar cerca de um terço da vida da mulher. 

Embora sejam conhecidas as implicações do climatério para a qualidade de vida da mulher, pesquisas nessa área não são abundantes, e as políticas de atenção à saúde feminina são pouco abrangentes e até ineficientes se considerarmos o contingente populacional que vivencia o climatério, bem como a duração desse fenômeno. 

Apesar da forte correlação entre os sintomas do climatério e a diminuição da produção de estrogênio, a observação da vivência do climatério em diferentes culturas sugere que fatores socioculturais também exerçam uma influência significativa na percepção das mudanças advindas desse período. Segundo Papalia et al. (2013), em culturas onde o envelhecimento é valorizado, a chegada da velhice é recebida com menos receio quando comparada com as mulheres ocidentais. 

Também a história particular de cada mulher influencia na qualidade de vida do climatério. A percepção da qualidade de vida varia de acordo com valores subjetivos como bem-estar com o próprio corpo, aceitação da passagem do tempo e seus impactos, grau de satisfação com a própria vida, manejo e habilidade para suportar as frustrações, além de senso de propósito com o passado e projeções de futuro capazes de impulsionar as mudanças no ciclo de vida.  Outros indicadores como a saúde física e psíquica, sustento financeiro minimamente adequado, condições de moradia, segurança e lazer, inserção social e religiosidade impactam a qualidade de vida da mulher climatérica. 

O estranhamento do próprio corpo e emoções em função das alterações múltiplas precipitadas pelo climatério, somado à falta de informação de qualidade e suporte emocional e social tendem a transformar esse período num terreno fértil para ser vivenciado de forma inadequada, influenciando negativamente a qualidade de vida da mulher. 

De acordo com Hunter (1993), a insegurança causada pelas alterações físicas desencadeia problemas psíquicos e pode intervir no relacionamento familiar e sexual e na integração da mulher na sociedade, pois no momento em que deveria ampliar suas relações, a mulher se retrai, afastando-se do seu ambiente. 

Em razão de ser o climatério uma etapa marcada por mudanças físicas e emocionais, além de sofrer influência de outros fatores associados à história pessoal, familiar, características culturais, aspectos psicológicos, além de inúmeras outas variáveis, entende-se que o climatério irrompe em cada mulher de forma de forma singular, impactando nos seus sentimentos e interferindo na qualidade de vida (Freitas et al, 2004).

Pelo fato da passagem pelo climatério ser um fenômeno distinto para cada pessoa, essa fase requer um olhar diferenciado da mulher no tocante a se disponibilizar para acolher as alterações suscitadas por essa fase. Como todos os processos de mudança, os desconfortos relativos a essas adaptações podem surgir, variando de intensidade, em consonância com inúmeras variáveis particulares de cada mulher. Em razão de ser um processo de tamanha amplitude e envergadura, faz-se urgente e necessário estar aberto às próprias necessidades, buscando informações, cultivando um diálogo honesto consigo mesma e com os familiares, buscando ampliar as redes de suporte e colaboração. O conhecimento é uma arma poderosa. No climatério, o respeito ao corpo e suas necessidades é um dos pilares da qualidade de vida durante esse longo período do ciclo vital da mulher.

O equilíbrio emocional do climatério advém da capacidade de lidar com as frustrações e realizações, buscando lidar com as mudanças maturidade e serenidade, numa atitude de reverência aos processos inerentes ao corpo e emoções típicos da mulher. Por todas as variáveis que influenciam a passagem da mulher por essa longa e desafiadora fase, a qualidade de vida no climatério é um desafio, um direito e uma conquista.

Bibliografia

Conheça o Brasil – Piramide etária. Disponível em https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18318-piramide-etaria.html. Acesso em 07/02/2021

HUNTER, M. S. (1993) – Predictors of menopasal symptoms: psychosocial aspects. Baillière’s Clinical Endocrinology and Metabolism. Vol. 7, nº 1, p. 33-45.

PAPALIA et al. Desenvolvimento Humano. 12º Edição. Editora AMGH, 2013.