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Psicologia do Climatério

Climatério e Pandemia, uma conta que não fecha

Estamos exaustos, não restam dúvidas. O “novo normal”, que de normal não tem nada, agora nem mais novo é. Já estamos no segundo ano de pandemia de COVID 19 e a vida insiste em não se acomodar. Ao contrário, incomoda.

Somado a esse cenário nada alentador, muitas mulheres começaram a vivenciar o climatério, que é um processo novo, e normal. Sim, normal. Acontece que temos o hábito de entender por normal situações conhecidas, e o climatério, apesar de recorrente, frequente e esperado segue rodeado de mistério, o que o coloca na ciranda de assuntos pouco explorados. Daí talvez venha a sensação de que essa etapa não é normal.

Assim como em razão da pandemia tivemos (e ainda teremos, e nem sabemos até quando) que buscar alternativas possíveis e viáveis de conduta dentro das poucas alternativas que nos restam, no climatério semelhante necessidade desponta.

As alterações despontam, reclamando serem atendidas. Nossos corpos, forças e hábitos estão sob novos comandos, constatação que costuma causar comoção e ressentimentos por parte de muitas mulheres. Um dos fatores que dificulta muito a travessia do climatério é a resistência em aceitar as mudanças, que sempre são encaradas como punição ou perdas.

Não é de se estranhar que muitas de nós prefiram ignorar os sinais e sintomas do climatério, como se assim fazendo, pudéssemos barganhar com o “envelhecimento”… afinal, o que os olhos não veem, o coração não sente. Será?

O nosso organismo tem uma inteligência própria, além de uma imensa capacidade de adaptação. Então, de nada adianta tentar enganá-lo. Se nos recusarmos a admitir as mudanças trazidas pelo climatério, que são necessárias e saudáveis, a situação tende a se tornar mais desafiadora do que já é. Tal postura coloca um sobrepeso emocional e psicológico num período onde a mulher precisa se aceitar e se acolher de forma profunda e significativa, a fim de não sofrer em demasia durante esse período e nos anos subsequentes.

É sabido que o climatério costuma ser bastante desafiador para a maioria das mulheres. Buscar informações, autoconhecimento, aceitação da passagem do tempo e suas características ajuda a relativizar as perdas e descobrir os ganhos. Apesar de ser um processo de transformação e preparação para o fim do período reprodutivo da mulher, é plenamente possível ampliar o entendimento do papel da mulher para além da função reprodutiva, e tal processo costuma ser libertador.

Para minimizar o sofrimento e potencializar as descobertas significativas, o conhecimento é um grande aliado. Caso essas mudanças despertem sentimentos muito dolorosos e difíceis de lidar, considere a possibilidade de buscar ajuda profissional.

Outra possibilidade de auxílio é o diálogo. Cada mulher vivencia o climatério de forma única e singular, mas buscar grupos de partilha promove encorajamento e senso de pertencimento. O climatério ainda é um assunto pouco abordado na sociedade e me muitas famílias, então é melhor procurar educar os que estão no seu entorno relacional do que se ressentir e se isolar em razão não estar sendo compreendida da maneira que você necessita. Afinal, estamos vivenciando uma pandemia em escala global, e estamos todos muito fragilizados. Cuide-se especialmente. Sua saúde e qualidade de vida agradecem.

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Qualidade de vida no climatério – Desafios e possibilidades

Associar qualidade de vida e climatério suscita sempre insegurança, uma vez que essa fase da vida da mulher é percebida na nossa cultura como um período marcado por provações e sofrimento físico, psíquico e social, fortemente associado ao envelhecimento – quase sempre indesejado.

O envelhecimento, entretanto, é uma vivência singular e, sobretudo, percebido de forma distinta a depender de características pessoais, aspectos culturais e gênero. 

Com o aumento da expectativa de vida no Brasil nas últimas décadas e a feminização do envelhecimento em razão da alta prevalência das mulheres entre os idosos, o climatério passou a ocupar um lugar de importância significativo, uma vez que esse período impacta diretamente no envelhecimento. Considerando que a média de vida das mulheres, segundo dados levantados pelo IBGE em 2018 é de 79,9 anos e a dos homens é de 72,8, e levando-se em conta que o climatério pede durar de 15 a 20 anos, esse período pode representar cerca de um terço da vida da mulher. 

Embora sejam conhecidas as implicações do climatério para a qualidade de vida da mulher, pesquisas nessa área não são abundantes, e as políticas de atenção à saúde feminina são pouco abrangentes e até ineficientes se considerarmos o contingente populacional que vivencia o climatério, bem como a duração desse fenômeno. 

Apesar da forte correlação entre os sintomas do climatério e a diminuição da produção de estrogênio, a observação da vivência do climatério em diferentes culturas sugere que fatores socioculturais também exerçam uma influência significativa na percepção das mudanças advindas desse período. Segundo Papalia et al. (2013), em culturas onde o envelhecimento é valorizado, a chegada da velhice é recebida com menos receio quando comparada com as mulheres ocidentais. 

Também a história particular de cada mulher influencia na qualidade de vida do climatério. A percepção da qualidade de vida varia de acordo com valores subjetivos como bem-estar com o próprio corpo, aceitação da passagem do tempo e seus impactos, grau de satisfação com a própria vida, manejo e habilidade para suportar as frustrações, além de senso de propósito com o passado e projeções de futuro capazes de impulsionar as mudanças no ciclo de vida.  Outros indicadores como a saúde física e psíquica, sustento financeiro minimamente adequado, condições de moradia, segurança e lazer, inserção social e religiosidade impactam a qualidade de vida da mulher climatérica. 

O estranhamento do próprio corpo e emoções em função das alterações múltiplas precipitadas pelo climatério, somado à falta de informação de qualidade e suporte emocional e social tendem a transformar esse período num terreno fértil para ser vivenciado de forma inadequada, influenciando negativamente a qualidade de vida da mulher. 

De acordo com Hunter (1993), a insegurança causada pelas alterações físicas desencadeia problemas psíquicos e pode intervir no relacionamento familiar e sexual e na integração da mulher na sociedade, pois no momento em que deveria ampliar suas relações, a mulher se retrai, afastando-se do seu ambiente. 

Em razão de ser o climatério uma etapa marcada por mudanças físicas e emocionais, além de sofrer influência de outros fatores associados à história pessoal, familiar, características culturais, aspectos psicológicos, além de inúmeras outas variáveis, entende-se que o climatério irrompe em cada mulher de forma de forma singular, impactando nos seus sentimentos e interferindo na qualidade de vida (Freitas et al, 2004).

Pelo fato da passagem pelo climatério ser um fenômeno distinto para cada pessoa, essa fase requer um olhar diferenciado da mulher no tocante a se disponibilizar para acolher as alterações suscitadas por essa fase. Como todos os processos de mudança, os desconfortos relativos a essas adaptações podem surgir, variando de intensidade, em consonância com inúmeras variáveis particulares de cada mulher. Em razão de ser um processo de tamanha amplitude e envergadura, faz-se urgente e necessário estar aberto às próprias necessidades, buscando informações, cultivando um diálogo honesto consigo mesma e com os familiares, buscando ampliar as redes de suporte e colaboração. O conhecimento é uma arma poderosa. No climatério, o respeito ao corpo e suas necessidades é um dos pilares da qualidade de vida durante esse longo período do ciclo vital da mulher.

O equilíbrio emocional do climatério advém da capacidade de lidar com as frustrações e realizações, buscando lidar com as mudanças maturidade e serenidade, numa atitude de reverência aos processos inerentes ao corpo e emoções típicos da mulher. Por todas as variáveis que influenciam a passagem da mulher por essa longa e desafiadora fase, a qualidade de vida no climatério é um desafio, um direito e uma conquista.

Bibliografia

Conheça o Brasil – Piramide etária. Disponível em https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18318-piramide-etaria.html. Acesso em 07/02/2021

HUNTER, M. S. (1993) – Predictors of menopasal symptoms: psychosocial aspects. Baillière’s Clinical Endocrinology and Metabolism. Vol. 7, nº 1, p. 33-45.

PAPALIA et al. Desenvolvimento Humano. 12º Edição. Editora AMGH, 2013.

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Angústia no climatério

A angústia é o grito da alma silenciado por uma mão que aperta o peito e dificulta o respirar, nos mantendo num estado de agonia – Silvana Lance

Estado de ansiedade, inquietude, sofrimento, tormento. Segundo o filósofo Kierkegaard (1813 – 1855), a angústia caracteriza-se por um sentimento de ameaça impreciso e indeterminado, inerente a condição humana, pelo ato de que o homem, ao projetar incessantemente o futuro, se defronta com a possibilidade de fracasso, sofrimento e, no limite, morte. 

Presente em grande parte dos relatos sobre a vivência do climatério, a percepção da angústia suscita a necessidade de nos debruçarmos sobre esse assunto, com o intuito de identificar os fatores psicológicos e culturais que facilitam o surgimento desse estado. O climatério, apesar de ser um processo natural para o qual o organismo feminino foi projetado, cuja função é preparar a mulher para o fechamento do ciclo reprodutivo, apresenta contornos socioculturais determinantes na qualidade dessa travessia. O envelhecimento, em razão da sua inevitabilidade, enseja uma elaboração racional. As emoções, entretanto, nem sempre acompanham tal elaboração. O confronto da mulher com as evidências físicas do próprio envelhecimento costuma provocar angústia. A forma com que cada mulher vai atravessar essa fase de mudanças, com maior ou menor prevalência de angústia, sofre interferências múltiplas, a depender de fatores ligados ao estilo de vida, variáveis biológicas, condições de saúde física e psicológica, contexto econômico e cultural, sistema de crenças e valores, além das características individuais. 

A construção cultural acerca do climatério e da cessação da função reprodutiva da mulher é carregada de preconceitos e estereótipos na cultura ocidental. A expectativa de vida da população brasileira é de 76,3 anos, e apesar do climatério ocorrer, em média, dos 41 aos 55 anos, a menopausa, ou seja, a interrupção definitiva da menstruação, é muitas vezes percebida como sinônimo de envelhecimento e incapacidade. A perda definitiva da possibilidade reprodutiva sugere, no imaginário coletivo, o início do envelhecimento feminino, e grande parte das mulheres se ressente, muitas vezes de forma inconsciente, com o prenúncio da velhice.

Nossa cultura valoriza em excesso aspectos como beleza, juventude e produtividade. Assim sendo, a mulher climatérica, sujeita a alterações corporais diversas, dentre inúmeros outros fatores, muitas vezes é subjugada, passando a ser representada como um ser deteriorado, debilitado e sem função social relevante. Essa construção social termina por induzir a estados de insatisfação e não aceitação das mudanças que se apresentam, impactando a autoimagem e facilitando o sentimento de menos valia, deixando a mulher vulnerável à conflitos psíquicos. 

O climatério acarreta uma alteração significativa no papel social da mulher. As mulheres idosas na nossa cultura gozam de um status social diminuído. Essa constatação pode precipitar um estado de profunda angústia e solidão, uma vez que a mulher acredita na premissa que sugere que todas as suas conquistas estão atreladas à juventude, atributo que não mais a representa. Apesar de valorizar a longevidade, os paradigmas sociais vigentes acerca do envelhecimento deixam muito a desejar no sentido da exclusão social do idoso, induzindo essa parcela da população a se autoperceber de forma negativa, sem valor, pois as moedas de troca mais aceitas – juventude, beleza e produtividade, estão fortemente dissociadas do envelhecimento, deixando o idoso sem função social, sem senso de pertencimento grupal. No climatério, ao se perceber envelhecendo, a mulher é confrontada com todas essas questões, e na tentativa de evitar o inevitável, a angústia se instala. 

O apego excessivo às características de outrora são o fio condutor da angústia auto infligida.

Segundo Martin Heidegger (1889 – 1976), um dos filósofos de maior destaque no século XX, a angústia pode ser entendida como uma situação afetiva fundamental, despertada pela consciência da inevitabilidade da morte. No climatério, permeado pela construção cultural da nossa sociedade, pode-se entender que o fim da fase reprodutiva prenuncia a morte da juventude, da capacidade de gerar filhos, da identidade e valor social. 

O conhecimento do corpo e das emoções femininas é fundamental para a compreensão das mudanças trazidas pelo climatério. Na busca por conhecer os próprios processos, a mulher deve priorizar o autocuidado, derrubando mitos e crenças que dificultam a passagem por esse processo de transformação. Nessa perspectiva, abre-se a possibilidade do resgate à dignidade do ser feminino, independente da etapa que está sendo vivenciada, em especial quando da travessia do climatério. O valor individual não está atrelado a nenhuma fase do ciclo vital. A transformação começa na própria mulher, ao cultivar o autorrespeito e reconhecer que as mudanças trazidas pelo climatério não são necessariamente negativas, antes a conclusão de uma etapa da vida. O apego excessivo às características de outrora são o fio condutor da angústia autoimposta. Buscar entender as transformações pode ser libertador, em detrimento de validar uma cultura que não compreende os processos naturais do ser feminino. 

Mudar a mentalidade de toda uma coletividade, entretanto, não é uma tarefa solitária. Leva tempo, é necessária uma educação voltada para a inclusão, sensibilização. Atitudes individuais, todavia, podem surtir um efeito maior que o esperado. Procurar compreender as mudanças despindo-se de todo e qualquer preconceito, entender o climatério como um período da vida repleto de possibilidades de mudanças e cultivar o autorrespeito, sem reproduzir conceitos errôneos e infundados ajudam a debelar o excesso de angústia e promovem, paulatinamente, alterações qualitativas na percepção coletiva a esse respeito.

A angústia que surge no climatério, paradoxalmente, traz uma série de possibilidades a serem exploradas. Ao buscarmos compreender os impactos das mudanças típicas desse período de forma profunda e individualizada, ou seja, considerando a própria percepção a respeito de todas as alterações que estão sendo vivenciadas, é possível relativizar o massacre social a que estão sujeitas as mulheres nesse período. A partir de um diálogo franco e aberto, abre-se a possibilidade de realização da travessia do período reprodutivo para o não reprodutivo com relativa tranquilidade e, sobretudo, com qualidade de vida. Essa jornada, entretanto, nem sempre é indolor. Há que se fazer algumas concessões, relativizar certezas e ter prontidão para mudar e aceitar as mudanças.  Ao se abrir para esse momento, até então desconhecido, a angústia tende a diminuir significativamente. Vale a pena lembrar que o climatério é um fenômeno multicausal, que compreende aspectos biológicos, psicológicos e culturais. Dessa forma, é imperiosa a necessidade de uma compreensão holística, que contemple o ser integral. Uma investigação da própria história, com disponibilidade emocional para rever posicionamentos e certezas guarda um potencial de crescimento. Não nascemos prontos para nenhuma das diversas etapas que a vida nos apresenta. Com o climatério não é diferente. Os desafios não são maiores nem menores do que em outros momentos da trajetória, apenas apresenta necessidades adaptativas próprias, que necessitam ser identificadas e validadas, numa atitude de respeito aos processos básicos do ser feminino em toda a sua magnífica complexidade. A angústia não é, por si só, boa ou ruim, apesar de ser uma experiencia desconfortável.  Sua função maior é nos lembrar que necessitamos de cuidado. Sobretudo, de autocuidado. 

A vida é uma série de mudanças naturais e espontâneas. Não resista a elas; isso só cria tristeza. Deixe a realidade ser realidade. Deixe as coisas fluírem naturalmente para a frente da maneira que elas desejarem. Lao Tzu

Bibliografia

Ruano, Eduardo. Soren Kirkegaard e o existencialismo. Disponível em http//Søren Kierkegaard e o Existencialismo – La Parola. Acesso em 12/12/2020.

Ser e tempo – Desconstrução da metafisica. Disponível em http//ihuonline.unisinos.br/media. Acesso em 12/12/2020. 

Expectativa de vida do brasileiro aumenta para 76,3 anos. Disponível em https://censo2021.ibge.gov.br/. Acesso em 04/02/21

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Quando o clima esquenta – Um olhar sobre o climatério

Eis que de repente a mulher percebe algumas mudanças. A maioria delas discreta, outras mais perceptíveis e algumas de fato saltam aos olhos. As atividades rotineiras, antes despercebidas, passam a chamar a atenção. O corpo e as emoções ficam em evidência, sugerindo mudanças. Alterações corporais, geralmente ligadas ao aumento do peso corpóreo, podem surgir e insistir em não ir embora. O ritmo circadiano sofre alterações visíveis, obedecendo a comandos misteriosos, fazendo do adormecer e do despertar aventuras ansiosas. O padrão menstrual costuma sofrer alterações muitas vezes incompreensíveis, fazendo com que a tensão pré-menstrual se perpetue às vezes por quase todo o mês. Um aumento significativo de cansaço e a sensação de nunca ter descansado o suficiente causam desconforto físico e psicológico e as emoções parecem fugir ao nosso controle, ou melhor, ao controle que imaginávamos ter até então. 

O cérebro límbico – ou o sistema das emoções, unidade do cérebro responsável pelas nossas emoções, ganha um protagonismo muitas vezes desconcertante. O humor tende a se manifestar de forma intensa e instável. A sensação predominante é de envelhecimento acelerado e repentino, como se abruptamente 10 anos tivessem se passado. Somado a esse quadro, acrescenta-se o fato de que a mulher, a partir dos 40 anos, costuma estar atravessando uma fase especialmente desafiadora da vida, uma vez que os filhos comumente ainda são dependentes dela em alguns – senão em muitos aspectos. Os pais, geralmente em idade mais avançada, costumam necessitar de cuidados adicionais e despertam preocupações.

 As demandas afetivas, o trabalho e as exigências de permanência e produtividade, atreladas ao aumento significativo da expectativa de vida e das atuais condições para galgar a aposentadoria, além das inúmeras pressões sociais de perpetuação da juventude e beleza, saúde e qualidade de vida, à luz do que dita o atual contexto cultural, pode tornar esse longo trecho da vida da mulher muito parecido com a travessia das cordas no esporte radical slackline, que consiste em caminhar sobre uma corda esticada a muitos metros do chão, pé ante pé, sem pausa para descanso, de forma que qualquer desequilíbrio pode ser literalmente fatal. 

Bem-vinda ao climatério. 

As demandas sociais diversas às quais são submetidas as mulheres na cultura ocidental, que valoriza em excesso aspectos estéticos, muitas vezes em detrimento dos éticos, terminam por colocar por sobre os ombros da mulher expectativas e modelos de atuação quase desumanos. 

A vida da mulher é permeada por alterações significativas, tais como a primeira menstruação – menarca, o início da atividade sexual, a maternidade e a menopausa. De acordo com a OMS – Organização Mundial de Saúde, o climatério é uma fase biológica da vida. Assim como todas as outras, exige diversas adaptações, sendo permeada por alterações físicas, sociais e psicológicas.

 Esse período, em especial, pode propiciar o reaparecimento de dores e conflitos adormecidos, muitas vezes precipitando muito sofrimento. O corpo e as emoções da mulher passam a demandar uma nova compreensão mais acurada, requerendo flexibilidade e ajustamento frente às novas necessidades. O nosso cérebro é conhecido por ser uma máquina de repetição. Talvez essa seja uma das razões pelas quais temos certa resistência a mudanças. Tudo o que é novo assusta, e com o climatério não é diferente. Parte das mulheres relata não perceber sintomas nessa fase, mas a grande maioria aponta o surgimento de alterações significativas. 

O termo científico climatério é utilizado para descrever a fase de transição do período reprodutivo para o período não reprodutivo da mulher, e costuma apresentar-se entre os 40 e os 55 anos de idade, até a ocorrência da menopausa. Oriundo do Latim climactericus e do Grego klimakterikus, que significa período crítico ou degrau de uma escada, o climatério representa um longo período, que imputa importantes repercussões e impactos na vida da mulher.

 Alterações de natureza fisiológica, simbólica e psicológica tendem a se sobrepor, requerendo um olhar diferenciado e acolhedor durante essa travessia. Trata-se de um fenômeno universal. Entretanto, os sintomas que acometem as mulheres podem variar significativamente de acordo as percepções a respeito dessa fase no contexto cultural no qual estão inseridas, contexto esse que compreende uma série de esferas, dentre as quais se destacam a sociedade, a família, as redes de apoio, o acesso à informação, a condição socioeconômica e cultural, fatores nutricionais e condições de saúde, além da possibilidade de expressão das emoções. Alterações de natureza fisiológica, simbólica e psicológica tendem a se sobrepor, requerendo um olhar diferenciado e acolhedor durante essa travessia. 

Em razão da sua natureza multicausal, onde fatores fisiológicos – metabólicos e hormonais, além de alterações sociais – padrões comportamentais e psicológicos – expressão e manifestação dos sentimentos, o climatério constitui-se num conjunto de vivências que requerem uma atenção diferenciada, visando garantir a saúde integral e a qualidade de vida da mulher. 

Como um fenômeno biopsicossocial que acarreta perdas e transformações diversas, cada mulher vivência essa experiência de modo singular. Com a diminuição na produção dos hormônios ovarianos, podem surgir sintomas físicos e psicológicos, bem como as manifestações culturais e sociais do climatério, experimentados de forma particular para cada uma. Trata-se de mais um ciclo na vida da mulher.

É importante ressaltar que o climatério, assim como inúmeros outros processos típicos do organismo feminino, não deve ser encarado como adoecimento ou fatalidade, antes necessita ser compreendido como um evento fisiológico com implicações biopsicossociais, para o qual o corpo feminino foi projetado, com plena capacidade de êxito. A transição do período reprodutivo para o não reprodutivo dificilmente será silenciosa e assintomática.

 Apesar de ser projetada para esse período, não há garantias de que essa fase ocorrerá de forma tranquila e harmônica para todas as mulheres. As inúmeras pressões às quais estão submetidas, a indução midiática e social à não aceitação do próprio corpo, transformando-o num oráculo social de sucesso ou fracasso, a crença de que o período menstrual é uma espécie de castigo ou condenação desnecessários, o incentivo farmacológico à repressão dos processos básicos do corpo feminino como a supressão eletiva da menstruação, a busca desenfreada pela eterna juventude e inúmeras outras demandas sociais tendem a dificultar a aceitação de um organismo que prenuncia mudanças. Entretanto, elas vão, inevitavelmente, ocorrer. O ciclo evolutivo para o qual o corpo feminino foi projetado compreende essa etapa. 

A transição do período reprodutivo para o não reprodutivo dificilmente será silenciosa e assintomática. Há que se cuidar também da mente e das emoções, buscando cultivar o respeito e aceitação das funções e características inerentes ao ser feminino. Assim como na adolescência, no climatério a mulher está numa fase de transição, e o desconhecido geralmente causa estranhamento, assusta, tira da zona de conforto, podendo desencadear frustrações, estados ansiosos e até mesmo depressão. 

Apesar disso, lamentavelmente o climatério ainda é um assunto pouco discutido, em especial entre as mulheres. Nos últimos anos, a expectativa de vida da população brasileira passou de 45,5 anos em 1940 para 75,5 anos em 2015, um aumento de 30 anos num curto espaço de tempo, de forma que o climatério passou a ser vivenciado por uma população significativamente maior, o que requer a implementação de políticas de atenção e promoção a saúde feminina diferenciadas por parte do estado e dos profissionais diretamente envolvidos. Trata-se de uma questão de saúde pública, em função do contingente de mulheres presentes na população. A necessidade de atenção é imperiosa.

 O climatério evidencia uma necessidade de reflexão a respeito da própria vida, sendo necessária uma reavaliação criteriosa e, ao mesmo tempo, perene, a respeito das próprias condições, das escolhas, de como a vida se desenrolou até então. A habilidade de negociação da mulher consigo mesma tem um grande impacto nesse período, pois surge a necessidade de equilíbrio entre os sonhos e as frustrações, uma vez que a função reprodutiva, tão representativa da feminilidade, encontra-se em declínio, e é preciso aprender a reconhecer o feminino para além dela. Negligenciar essa demanda certamente não vai ajudar, podendo dificultar muito a vivência do climatério. 

O climatério evidencia uma necessidade de reflexão a respeito da própria vida, sendo necessária uma reavaliação criteriosa e, ao mesmo tempo, perene, à respeito das próprias condições, das escolhas, de como a vida se desenrolou até então.

 Em atenção à essa necessidade, a Vocatum Psicologia se dedica a buscar contribuir com o universo feminino, trazendo temas e discussões que auxiliem à mulher nessa travessia, a partir de reflexões que suscitem autoconhecimento e uma melhor compreensão sobre o ser integral e as peculiaridades do climatério. Traremos temas pertinentes às alterações psicológicas e emocionais desse período, de forma simples e direta, na intenção de fornecer insumos para a compreensão da feminilidade face às novas necessidades adaptativas, visando a saúde emocional através da busca constante de autoaceitação. Esperamos contar com a sua parceria nessa viagem de descobertas e incremento do cuidado e respeito próprios. Vamos viajar juntas?

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